Fica uma dica de filme para refletir: o sul-africano “Beat the Drum”. Leia as resenhas de Camilla Velloso, Jasmim Caparroz e Luana Marques!
“BEAT THE DRUM”
Por Camilla Giovannini Velloso
O filme “Beat the Drum”, dirigido por David Hickson, traz como tema central a ignorância do povo africano. A AIDS, doença que ataca a família de Musa (Junior Singo), personagem central do filme, é consequência desta ignorância e do apego a tradições religiosas arcaicas.
Lançado em 2003, o filme tem como objetivo ser um longa-metragem, produzido originalmente para a TV. Este jovem de mais ou menos 12 anos, tentando entender as causas da morte de seus pais e de outros habitantes de sua vila, parte em direção a Johanesburgo, em busca de respostas e, ao longo desta jornada, se depara com a prostituição, a violência sexual contra menores, aos rituais com sacrifícios de animais e a dificuldade de conseguir viver dignamente na cidade grande.
Apesar da pobreza e da doença serem naturalmente temas apelativos, não é isso que vemos na tela. O filme é emocionante e expõe a ignorância e a alienação da população, deixando de lado cenas que poderiam retratar os males da AIDS.
Musa nos sensibiliza com sua inocência inicial e com sua capacidade de percepção da realidade e desejo de mudança.
“Beat the Drum” é uma obra de ficção que nos apresenta a realidade atual africana. A África precisa produzir mais Musas para dar um basta à corrupção, à ignorância e à falta de perspectiva que meninos e meninas, que vivem nas ruas ou na pobreza de pequenas vilas espalhadas pelo continente, continuam tendo.
Pobreza é sinônimo de AIDS?
O filme “Beat the Drum”, 2003, retrata a doença em diversos lugares da África de diversas classes sociais.; desde periferias, ruas, tribos, até em casas de pessoas com renda alta. A diferença é que cada um trata a doença de um jeito: os “ricos” fingem que ela não existe, as pessoas de periferia usam a doença para se defender e as tribos da África (no filme, mostram a tribo Zulu) não sabem que é uma doença, pensam que é uma maldição. Mas todos têm vergonha da AIDS.
O mais interessante do filme é que todos os fatos narrados, problemas sociais, descobertas sobre a AIDS, acontecem na visão de um menino; e isso nos deixa mais chocados do que se fosse na visão de um adulto.
O diretor David Hickson e o roteirista David McBrayer acertaram ao mostrar de perto a intervenção da prostituição, pedofilia e do estupro na doença da AIDS, pois são uns dos maiores meios de desencadeamento da doença.
O longa-metragem, produzido originalmente para TV, conta a história de um menino da tribo Zulu que viaja para a cidade em busca de uma vaca (para repor a outra que foi sacrificada) e do seu tio Majola. Na cidade, ele conhece muitas pessoas que o ajudam em sua jornada, mas também pessoas que só o impedem de atingir seu objetivo.
Algo que o diretor poderia ter aproveitado mais é a paisagem da África; mas por não ser uma superprodução, o filme é muito bem feito e a ideia dele é incrível. É muito importante que o diretor tenha feito um filme sobre o assunto da AIDS, inclusive é bem didático e pode ajudar muitas pessoas a aceitarem a doença e outras a se prevenirem.
Fortes Emoções de uma Jornada
Por Luana Marques Soares
“Beat the Drum” (2003) ou, em português, “Uma Jornada de Esperança” é um filme que conta a história de um menino, Musa (Junior Singo), que vive na África na época em que o país está sofrendo uma forte epidemia de AIDS. O menino perde toda a família e sai de sua vila para ir a Johannesburgo em busca de seu tio. Em sua jornada, Musa conhece muitas pessoas e também a vida de uma cidade grande.
O drama traz diversos valores e dificuldades para os quais precisamos estar bem atentos para captá-los através do olhar de David Hickson (diretor). A sutileza e a veracidade, em perfeito equilíbrio, fazem com que a maneira como conta a história, aborde temas como a prostituição, a AIDS e a pobreza, de forma que não se tem como escapar da reflexão. Sem contar a delicadeza de como trata sobre solidariedade, amor e compaixão.
Tudo isso porém, só foi possível com a brilhante participação dos atores. Junior Singo (Musa) faz o personagem ganhar uma importância tão grande que qualquer um fica “de queixos caídos”. Seu olhar e simplicidade trazem um enorme carisma e fazem que os espectadores se apaixonem pelo personagem. Além de Owen Sejake (Nobe) e Nolatanda Maleke (Letti) que trazem vida aos seus personagens deixando você com medo, mas ao mesmo tempo dão exemplos de personalidades para a vida. As imagens das pessoas e paisagens, em planos abertos e fechados, e a trilha sonora instrumental e persuasiva, deixam os momentos mais intensos e participativos.
As relações entre pais e filhos, pessoas de classe mais alta com outras de classe mais baixa e de amizade, muito bem representadas pelos atores, apresentam ligações com nosso cotidiano, temas que preferimos ignorar no dia-a-dia, como a pobreza. Os personagens também apresentam fortes personalidades que encontramos no decorrer de nossas vidas, reportando problemas, como falta de respeito, superioridade e ganância, que ocorrem no mundo inteiro.
Mesmo sendo um filme produzido para televisão, retrata fortes emoções e um choque de realidade. Muito bem feito, apesar do final previsível, é excelente para entender o porquê de algumas coisas, como a vida no crime, a prostituição e o medo da AIDS, temas tão polêmicos e pouco discutidos. Para assistir a esse filme é necessário tempo, para que se possa assimilar e entender todas as informações transmitidas.
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